Bastião dos cocais

Author: Revérbero Pessoa /

Bastião dos cocais esse é filho da terra.
Pense num cabra da peste
Já aprontou de leste a oeste
Por todo esse sertão.

Quando criança
Não tinha medo de nada,
Nem de assombração.

Já adulto
Um dia cruzou com o Zé carrapeta,
Sem hesitar
Puxou a peixeira e vociferou:
- Pode vim que eu estou pronto
Seu carrapeta desgraçado,
Posso até morrer,
Mas hoje, ainda te mato!

Da outra margem do caminho
O Carrapeta olhou
Com uma cara bem feia e disse:
-Oxente,
Agora foi que deu
Um desnutrido desse
Querendo bater n’eu.

Mas Bastião dos cocais era afoito
E partiu pra cima do desgraçado.
A briga durou três dias.
-Nunca vi no sertão
Tanta gente pra ver
Uma confusão.
Uns cansaram de esperar,
Outros pegaram no sono.
E eu quero ver a peleja acabar.

Noite a dentro
O que se ouvia
Eram os golpes cortantes
Das peixeiras no ar.
E a poeira a subir
Enroscada com o vento.

No derradeiro dia
Ambos já cansados.
O Zé bobeou,
Bastião que não é besta nem nada
Meteu-lhe a peixeira no bucho
Ferindo mortalmente
O Zé carrapeta.

- Nesse momento tive pena,
Coitado do Carrapeta
Dormiu e nada entendeu
Só se deu conta depois que morreu.

Na casa amarela...

Author: Revérbero Pessoa /


Na casa amarela
Abre-se porta,
Abre-se janela.

As pessoas que la moram
Vivem indo e vindo,
Igual a pianista no piano.
Dia após dia,
Noite após noite.
Todos em um belo cotidiano.

Zé metido a machão,
Arreganha porta, portão e janela
Tudo com um safanão.

Maria, moça fina e recatada,
Acaricia a porta
Com a mão espalmada.

Juca, o pequenino
Passa que nem percebe a porta.
Envolvido por sua alegria de menino
Mal chega e já vai saindo.

Tobias, o cachorro da família
Desaparecido há três dias,
De longe só observa.
A agonia,
Num vai e vem frenético
Da porta, do portão e da janela.

Quem sou eu?

Author: Revérbero Pessoa /

Eu não sei!
Eu não sei!
Sou todos,
Sou tudo
Bicho e humano
Um número
Um nome
Um suspiro
Um adeus...

Compasso

Author: Revérbero Pessoa /


Preta, vem logo
Pros meus braços.
Vamos assim os dois,
Em um único compasso
Embalar o coração.

Olhos nos olhos,
Boca na boca,
Respiração a ofegar.
Somos dois
Numa única batida...

Teu peito me aquece.
Nesse instante
A saudade desaparece.
Tudo é felicidade.

Claro é o dia,
Infinita a alegria
De beijar-te
Mais uma vez.

Rio urbano

Author: Revérbero Pessoa /

Ontem choveu,
O Capibaribe transbordou,
Os canais encheram
E a cidade se afogou.

Pessoas nadando
Em meio aos peixes
Tudo é água,
Rios inocentes.

Recife!
Cidade alagada.
Políticos riem
E o povo de jangada.

Falta estrutura,
Falta cidadão.
Pra cobrar dos políticos
Depois da eleição.