Garota da noite

Author: Revérbero Pessoa /

Lembro-me bem
Ainda era noite
Quando te encontrei.
Passeando entre os casarões antigos
Andavas alegre pelas ruas e avenidas
Tão negra quanto o véu
Turvo e opaco da mais bela noite.

Em minha mente
Ainda eis figura viva
Ao fechar os olhos
Ainda posso var o teu caminhar.
O passo alegre,
As danças a cada poste.
E como era belo teu sorriso!

Confesso que estremeci
Com teu olhar.
Aqueles olhos morenos, sedutores
Lascivos e devassos.
Como dois juízes
Condenavam-me,
Expunham-me a meus sentimentos mais impuros.

Tomado de súbito pelo desejo,
Pelo cheiro de tua carne,
Tua pele branca como a lua
Que de longe nos olhava.
Não consegui parar de imaginar
De querer estar dentro de você.
Fundir-me à teu ser.
Pois neste momento
Tive certeza que só assim
Seria feliz.

Zé e a morte

Author: Revérbero Pessoa /

O Zé não presta atenção
É a bola que cai,
A comida que queima,
O tempo que não passa.

José ainda está lá
Deitado e triste.
Para ele,
Agora é impossível sorrir.

Guardado lá
Em seu momento mais sereno.
Está em paz.

Agora não mais olha,
Nem fala,
Muito menos cheira
Pobre José.

Teatro

Author: Revérbero Pessoa /

Tantas atrizes
Tantos atores
Este é
Realmente
Um grande espetáculo.
Mas não se enganem
Não é belo,
Nem feliz
É antes de tudo
Triste e sem cor.

Não contemplam a vida,
Mas a morte.
Cumprem ao mesmo tempo
Um duplo papel.
São carniça e urubu,
Frutos da mesma semente.

Vão eles caminhando
Em direção ao nada
Esperando que tudo
Um dia esteja bom,
Ou, ao menos razoável.