Monólogo de um defunto

Author: Revérbero Pessoa /


Olhando todos vocês ao meu redor
A observar-me com seus coloridos olhos.
Imóveis como estátuas de sal
Que o vento vai levando de grão em grão
Para longe de meu morto olhar.

Apresento-me bem
Diante de tais consciências quem um dia me julgarão.
Visto um traje de extrema elegância,
Um belo paletó emadeirado
Ornamentado com flores e um belo tecido de seda.

Passam-se as horas...
E não enxergo mais o grande fluxo de pensamentos de outrora.
Acho que a hora certa aproxima-se.
Ao longe ainda consigo ouvir um misto
De choro [lágrimas], agonia e orações.

Do meu novo e interessante ponto de vista
Tudo isso me parece uma ladainha sem fim.

Alguém atira-se por sobre minha nobre vestimenta,
Em um ultimo e desesperado suspiro de esperança
Causando um grave amassado em minha roupa.
Algo que me perturbará pela vasta imensidão da eternidade.

Sete palmos, eis a exata medida do fim humano.

O tempo passa um pouco mais...
Sinto o doce e inebriante perfume das rosas,
Rosas jogadas para um cadáver, que ironia!

Agora estou coberto por terra
Uma terra negra e silenciosa que soa como ópera em meus ouvidos.
Só uma coisa me resta,
A longa espera pelos vermes.