Author: Revérbero Pessoa /


Um cigarro aceso
Um drink na mão.
Deve agradecimentos
Por toda a ilusão.

Sabe que bem não faz,
Mas que mal há em morrer?
Vai bebendo
Vai fumando.
Esperando o sol nascer.

Sai cambaleante
Após a noite nauseante.

Nunca vi cuspir tanto,
Mal se ergue
Já cai no canto.
- Êta cachaça!

O Zé não era bom,
Mas também não era ruim.
Maldita é a Renata
Pense numa mulher ingrata
Se mandou e deixou
O pobre Zé assim.

O coitado não tem paz
Nem alegria
Sofre mais que escravo
Sem a bendita alforria.

Copo após copo
Ele tenta se afogar
Deve ser assim
Que se morre
De tanto amar.

O vento

Author: Revérbero Pessoa /

Anda por ai
Seguindo seu curso
Tal como um rio
Que se sente,
Mas não se vê.

Nele figuramos
Como meros peixes.
Cardumes inteiros
Bailando na correnteza da vida.

Fraco ou forte,
Segue seu caminho.
Nunca chega a parar!
Viaja ele assim
Pelos quatro cantos do mundo
Em suspiros incansáveis.

Tenta ser notado
Afinal de contas,
Deve ser chato
Ser transparente
Em um mundo
Tão cheio de cores.

Cidade Esperança

Author: Revérbero Pessoa /

Nas entranhas do sertão nordestino
Pra lá de onde o vento faz a curva,
Existe uma grande cidade
Chamada Doce Esperança.

De tão grande que é
Começa no fim
E acaba no começo.
Possui apenas uma única rua,
Cortada ao meio
Por uma pequenina praça.

Quem por lá passa
Mal nota a cidade.
Apenas sente uma leve sucessão de cores na paisagem.
Cores essas
Provenientes das casas
Que fazem parte de tal cenário.

As casas representam um arco-íris
E seus habitantes os flocos de algodão do céu.

Tal como no céu
A vida em Esperança
É uma monotonia constante
Tudo acontece em seus horários determinados.

O cotidiano dos esperançosos
Mais parece um ensaiar eterno, preciso e exato.
Como se cada individuo participasse de uma grande peça
No incrível teatro da vida.

Senhoras costuram rendas,
Homens no roçado,
Crianças brincam no chão quente
E o sol escaldante a tilintar em suas cabeças.

São pessoas comuns,
Com hábitos comuns.
Vivem como nuvens
Ao redor de um arco-íris.

A vida por lá passa lentamente, quase parando.
De pouquinho em pouquinho
Os moradores da Esperança
Aprendem como é bom viver
Reconhecendo fascínio e prazer
Em coisas simples
Como o céu.

O tempo

Author: Revérbero Pessoa /

É interessante
Como nos acomodamos
Ao tempo.

Os anos passam ligeiro
E todas as surpresas da vida
Tornam-se parte de um cotidiano.

O riso antes branco
Passa a ser amarelo.
Sorrisos
Dotados de falsas aparências
Agora nos rodeiam.

De fato
O tempo não vem para poupar,
Vem para nos consumir.

Sem dó nem compaixão
Ele nos arrasa
Com as marcas da velhice.

A preta, o samba e a lua

Author: Revérbero Pessoa /

Preta teu andar me encanta
Logo recordo aquele samba
Que um dia te vi dançar.

Dançavas com alegria
No meio do salão
Fazendo ventania,
Arrebatando meu coração.

A lua por vergonha se escondeu
Com medo do brilho teu.
Ninguém sabe por onde
Creio que foi pra lá do horizonte.

O céu ficou cinza
Parece-me que todos lá de cima
Tiveram pena da pobre coitada
E pra castigar
Mandaram uma bela chuvarada.

Pobre lua...
Sem ter a quem amar
Fez o céu inteirinho chorar.