Cidade Esperança

Author: Revérbero Pessoa /

Nas entranhas do sertão nordestino
Pra lá de onde o vento faz a curva,
Existe uma grande cidade
Chamada Doce Esperança.

De tão grande que é
Começa no fim
E acaba no começo.
Possui apenas uma única rua,
Cortada ao meio
Por uma pequenina praça.

Quem por lá passa
Mal nota a cidade.
Apenas sente uma leve sucessão de cores na paisagem.
Cores essas
Provenientes das casas
Que fazem parte de tal cenário.

As casas representam um arco-íris
E seus habitantes os flocos de algodão do céu.

Tal como no céu
A vida em Esperança
É uma monotonia constante
Tudo acontece em seus horários determinados.

O cotidiano dos esperançosos
Mais parece um ensaiar eterno, preciso e exato.
Como se cada individuo participasse de uma grande peça
No incrível teatro da vida.

Senhoras costuram rendas,
Homens no roçado,
Crianças brincam no chão quente
E o sol escaldante a tilintar em suas cabeças.

São pessoas comuns,
Com hábitos comuns.
Vivem como nuvens
Ao redor de um arco-íris.

A vida por lá passa lentamente, quase parando.
De pouquinho em pouquinho
Os moradores da Esperança
Aprendem como é bom viver
Reconhecendo fascínio e prazer
Em coisas simples
Como o céu.

O tempo

Author: Revérbero Pessoa /

É interessante
Como nos acomodamos
Ao tempo.

Os anos passam ligeiro
E todas as surpresas da vida
Tornam-se parte de um cotidiano.

O riso antes branco
Passa a ser amarelo.
Sorrisos
Dotados de falsas aparências
Agora nos rodeiam.

De fato
O tempo não vem para poupar,
Vem para nos consumir.

Sem dó nem compaixão
Ele nos arrasa
Com as marcas da velhice.