Cinza é o céu

Author: Revérbero Pessoa /


O dia amanheceu cinza.
Nuvens em tons escuros encobriam o céu.
Da janela observo pessoas.

Todas me parecem estátuas de gesso
Degenerando-se ao contato com a água,
Morrendo um pouco mais a cada gota.

Chove bastante...
Gotas de chuva
Rasgam de maneira agressiva o vidro.

Em pouco tempo
Estarei mais uma vez solitário
A vagar por ruas e pontes desertas.

Calmamente troco passos.
Em meio a poças de lama
Pensamentos embaralhados brotam de minha cabeça.

Continuo a andar.
Sem o burburinho da sociedade
Consigo refletir e organizar as idéias.

Em passo único e solitário
Continuo a vagar.
Sem propósito nem destino
Tentando encontrar um motivo para viver.

Sertanejo

Author: Revérbero Pessoa /

Espécie estimável de humano
Habita uma área castigada pela seca
Fenômeno natural de muita crueldade.


Desde o ventre,
O pequenino sertanejo aprende a lutar.
Tenta ele o que pode para manter-se vivo
Na escassez de nutrientes
Retira o Maximo que pode das entranhas de sua mãe.


Quando cresce aprende que a vida
Era bem melhor onde estava.
Trabalho e mais trabalho
No roçado.
Cuidado para com o pouco rebanho que tem.
Gasta ele suas energias
Que em época de fartura.
Retira de sua alimentação
Rica em nutrientes.
E na seca
Tira da macambira e da mucunã .


Parece ele um homem de ferro
Com múltiplas funções
Hora agricultor,
Hora vaqueiro
Hora retirante.


Sua fé é incontestável
Religioso que só ele.
Crê que a chuva sempre virá
Trazendo alegria à paisagem desolada
De terra rachada e pouca ou nenhuma vegetação.


Quando a seca é grande
Vira ele retirante.
Toma o rumo do litoral
A procura de terras mais verdes
Mas só abandona a terra querida
Quando se vê em condições de fome extrema.


A fome em si.
Muda completamente o comportamento
Desse santo homem
Perde a calma
Perde a paciência
E perde o escrúpulo.
Vira bicho feroz.
A fome meus amigos
Transforma o mais santo dos homens
No mais cruel dos assassinos.
Matando sem ver cara nem coração
O cheiro do sangue em sua peixeira
Há essa hora lhe parece agradável.
Mata até ser morto.


Quando tem noticias de que
A tenebrosa seca acabou.
Retorna a massa sertaneja
A sua terra prometida.
Planta e cria
Tudo novamente até que chegue
A seca outra vez.


Vive assim o sertanejo
Amando sua terra e
Seus costumes.
Não a troca por nada.


Pareceria engraçado se falasse
Mas é a pura verdade
Não é o sertanejo que é dono da terra
E sim a terra é dona do sertanejo.

O futuro

Author: Revérbero Pessoa /

Carroças de ferro
Vagam pelas ruas,
Soltando a fumaça do progresso.

Progresso construído a um altíssimo custo
Renegamos a vida
Pelo bem da evolução.

O sol, já não brilha tão intensamente,
Os vegetais não mais respiram
E eu apenas observo.
Parado, inerte e triste.

Observo a desgraça que ajudei a construir,
As coisas que modifiquei.
O bom senso, a ética e outros valores
Que de tão importantes, os desprezei.

Valores oriundos de um passado glorioso
De respeito e cordialidade.

Aqui, vegetal como me encontro
Faço-vos um simples questionamento
Evoluímos?

...

Author: Revérbero Pessoa /


Tudo o que tem q ser
Um dia vai passar.

E nesse dia você verá
Que o tudo era absolutamente o nada.
Coisas vãs e sem importância.

Vai querer se livrar
Disse ou daquilo.

Mas o nada
Já te consome por completo.

Não há mais saída,
Nem tempo para pensar
Ou alterar o que foi feito e dito
Não há uma segunda chance.

João

Author: Revérbero Pessoa /


La vai o João,
Bobo e risonho
Como sempre fora.

João é feliz.
Não tem medo de viver, de rir ou chorar.
Não liga para o que os outros pensam
Ou até mesmo
Dizem a seu respeito.

Vive sua vida de
Maneira intensa saboreando cada momento
Cada instante.

Sempre risonho desce a rua assobiando
Sua modinha preferida.
Há muito popular
Que fez sucesso nos tempos de seu pai.

João meus amigos
Vive assim
De um sorriso pra outro.
Transplantando alegria ao peito alheio.

Ô vida boa.

A despedida do João

Author: Revérbero Pessoa /


Quem diria que o João
Nosso doce amigo de versos passados
Deixasse um dia de sorrir,
De sentir e passar toda aquela alegria
Que a todos contagiava.

É João, meu nobre amigo
Não mais o reconheço.
Andas por ai deprimido a sussurrar e murmurar
O teu amor perdido.

Vagando de bar em bar
Tentas esquecer o que antes era sólido
E agora virou pó.

Mas um dia tudo isso teve um fim.
Se foi bom ou ruim,
Não cabe a mim o dom de julgar.

Só sei que foste beber
Para afogar todo o sentimento ruim
E terminaste afogado por ele.

Pobre João,
Por que tu meu amigo
Quis um dia amar?

Carta

Author: Revérbero Pessoa /


Chegamos de mansinho um no outro.
Conversas simples e sem nenhum significado
Deram inicio a nossa pequena história.

As horas passavam depressa
Naquela noite de janeiro.
A cada minuto meu desejo aumentava.

Finda toda a diversão
Voltamos para casa.
Mesmo com o sono a nos rodear
Conversamos...

Desde o primeiro momento que te vi
Pude ver a bela mulher
Que você havia se tornado.

Não resistindo à tentação
Roubei-te um beijo.
Confesso que estava com medo
De uma possível rejeita.

Para meu alivio,
Beijaste-me.

Com o passar dos dias
Encontramos-nos várias vezes.
Encontros esses que figurarão
Eternamente em minha memória.

No meio de tantas risadas
Deixamos de perceber
Que a cada dia
Apegávamos-nos um ao outro.

Nunca esquecerei
Nós dois na beira da praia
Numa noite fria.
Aonde o mar vinha beijar nossos pés.
E a lua, coitada,
Por não poder amar escondeu-se por trás de nuvens escuras.

Chovia fino quando nos beijamos.
Por um momento flutuamos,
Esquecemos do mundo.
Por doces e adoráveis minutos
A única coisa que nos importava era o momento.

E como foi dolorido
Ter que te deixar.
Olhar para trás e vê
Que tudo
Agora são só boas lembranças.

Despedidas sempre são tristes.
Sentia um grande amargo na boca
E um forte aperto no peito
Quando te disse adeus.

Sei que choraste
Assim como também chorei.
A dor que se sente ao perder algo
É grande, mas toda essa grandeza
É dissolvida em lágrimas.

Creio que seja próprio do ser humano
Chorar ao partir.

E o céu a nos observar
Também chorou ao nosso adeus.


Dedicado a Kiara, que fez os meus dias mais felizes.